As Três Mulheres

A figura escapou ao contorno do lápis e o brilho dos cristais esbate o desenho da silhueta. Será um sonho com estilhaços de asas? A dimensão é pequena e a extensão da forma aparece fragilizada.
………………………………………………………………………………………………

A primeira mulher avançou e dominou o grupo. Ergueu o tronco e meneou a voz à altura das cabeças, que escutavam em volta. Falou e envolveu-as em palavras de estranhas sonoridades, como se a fala fora de si acabada de nascer. De seguida, suavemente, em formas que se ritualizam, desprendeu o manto, cobrindo-as em silêncio com o pano branco e pesado de burel. Sob este, a claridade emerge difundindo as cores – permanentes e imóveis.

A segunda mulher ergue-se do círculo. Volteia o corpo e move-se quase impercetivelmente de forma a escurecer a primeira figura. Os gestos sucedem-se em movimentos alargados e aumenta o campo em torno – tanto quanto, com o vento, passando por sob o pano, os cabelos se soltam e afastam descontroladamente. Nas mãos firmes agarra o manto (que a primeira figura lançara) e fá-lo percorrer no espaço, recriando as cores. Todas lhe mexem e o passam entre si, até ficar amarelecento e corrompido no suor que o gasta.

Sem o pano a protegê-las, não suportam o vento nem a carícia do sol nem a limpidez da chuva e perde-se a fixidez das cores. Por isso se arrastam todas, em vão, de encontro à terra.



Impassível, a terceira mulher desprende-se do solo. Segura numa mão um molho de ervas secas e na outra dois paus. Deposita o conteúdo no chão e envolve tudo com o manto gasto e esfarrapado. Esfrega os paus com força por entre as mãos e sopra devagar até fazer saltar o fogo. Nele os corpos deixam-se alastrar… até nada mais haver para além da neblina – criada pela cinza e pelo vento – pronta a desenhar uma nova figura.

Sem comentários:

Enviar um comentário