Mecânica Breve

        Só o silêncio é memória.

            O pensamento é a corda mansa do cérebro.

            Reinventadas, a fala, a voz são recriações imperfeitas do que é mais rápido.

            Indizível…

         A bobina do pensamento. A gravação desfaz o som: avança, pára, volta atrás, recomeça. E, neste procedimento técnico, os sons    reajustam-se deformados, em cada metro de fita, até não serem mais do que fragmentos descontínuos, ininteligíveis, presos na estrutura física.

          Um a um projetam-se, alongam-se no espaço, até ganharem a altura de elevação necessária para se libertarem do domínio da gravidade do planeta, contida na fita.

            Aí permanecem, conduzidos, em suspensão móvel, por sobre os espaços povoados.

           O movimento prossegue continuado… não havendo mais sons, repete-se a sequência inicial da gravação.

            Tudo regressa de novo ao princípio.

            Um princípio perfeito no espaço. Solto, perene, inesgotado.

            O mesmo e sempre repetido e sempre recuperado.

            Criar o som…

            …imaginá-lo…

            …sustê-lo suspenso…

            …sem cálculos matemáticos…

            Dar-lhe um pensamento.

            Dar-lhe também uma vontade.

            Dar-lhe um poder imenso de se construir…

            Ou, mais simplesmente, de se libertar das leis físicas, até ser devorado pela máquina solar.

            Ritual de fogo e chamas.

            Purificável e renovador.

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